domingo, 9 de maio de 2010

Moderno, modernismo e modernidade

MODERNO

O moderno é um conceito experimentado pela cultura ocidental. Segundo Hans Ulrich Gumbrecht (foto à esquerda), a modernidade e a modernização correspondem a uma sobreposição desordenada de uma série de conceitos diferentes.

Pode-se dividir a transformação do conceito de moderno em cinco momentos. Em um primeiro momento, o conceito de moderno está calcado nos juízos de valor do senso comum, significando atual e bom. Esse primeiro conceito compactua de um sentido técnico da própria etmologia da palava, que vem do latim ''modernus'', significando limite da atualidade. Tal limite, segundo Hans Robert Jauss (foto abaixo), é exclusivo à atualidade histórica do presente.

No século XII, o conceito de moderno entra em seu segundo momento, como sinônimo de aperfeiçoamento. O que é novo se torna  um realce do que é antigo, fazendo com que este consiga sobreviver àquele.

O terceiro momento, vem com o renascentismo do século XV, representado pela restauração do antigo, a fim de exprimir o caráter perfeito das coisas. É nesse momento que se aplica o pensamento de Jauss acerca do limite da atualidade, de modo a esclarecer que o presente não representa o novo sempre, como se isso lhe fore um direito natural. Um dia o presente será o passado e assim a modernidade um dia se transformaria em antiguidade.

No quarto momento, Charles Perrault (foto à esquerda) traz um fim ao ideal renascentista de perfeição. Durante esse momento, coexistem dois partidos intelectuais, pertencentes principalmente iluminismo: os modernes, que acretidam no progresso com base na ciência e na filosofia; e os anciens, apreciadores do valor atemporal da antiguidade.

É com os modernes que o conceito de moderno surge pela primeira vez como designador de um movimento, segundo o qual acretida-se que cada época tem seus próprios costumes e olhares para a realidade. Distingue-se duas naturezas para o que seria o belo: algo universal, que consiga transcender o tempo (beauté universelle) e algo presente e mutável no transcorrer das épocas (beau relatif).

O quinto momento é consagrado pelos chamados ''novos iluministas'', que creem no caráter futurista do moderno, que agora é sinônimo de algo bom, novo e autosuficiente. Nesse período, o moderno não se distancia do velho, mas sim do que é clássico. 

O MODERNISMO

A ideia de modernismo, pragmaticamente falando, surge da ideia de criar novos mecanismos/objetos/ utensílios capazes de facilitar a vida da população média. População esta que vem de um trauma recente, as longuíssimas jornadas de trabalho que precisavam enfrentar para manter sua subsistência nos séculos XVIII e XIX.

Com esse anseio de ter uma vida facilitada é que se inicia o avanço tecnológico. A população projetora, com este avanço, ter um tempo maior de lazer, uma vida mais tranqüila, forma-se uma meta, um objetivo de vida. Um sonho comum a grande parte da população mundial, e o que traduz muito bem este anseio é a tentativa de criação de robôs que substituíam os humanos em suas atividades cotidianas. Esse é o chamado Projeto Moderno.

Já  com relação às diversas artes, o que vem quebrar/romper estilos artísticos vigentes (anteriormente pensava-se “na sabedoria do passado que repousava a idade de ouro da humanidade, com iluminismo”). Surgem-se escolas com propostas novas e completamente inovadoras como é o caso do dadaísmo ou do surrealismo.

A MODERNIDADE

Para Baudelaire (foto à direita) a dualidade da arte é conseqüência da dualidade do homem, pois existem varias formas de se vê o belo em varias obras de arte. Baudelaire comenta que para decifrar as mudanças sem precedentes ocorridas no cenário urbano, acarretadas pela revolução industrial é uma tarefa difícil e que só pode ser feita por um herói.

Ser herói da modernidade significa entender de que forma os personagens apreende as informações, as novas situações da vida nas grandes cidades.

A modernidade esta na forma de como se entende a realidade das coisas, dos fatos e da necessidade de se distanciar do passado como se o passado não fosse uma semente do presente. A modernidade, portanto, pode ser entendida como uma entidade, onde o contexto e o herói se fundem para dar sentido ao que chamamos de modernidade.

Segundo Walter Benjamin, o homme dês foules ou multidões humanas como alguém que busca algo e não que é tomado por fascinações repentinas por um indivíduo. Já flâneur “o boêmio” não procura algo específico, ele não está atrás de nada.

Baudelaire compara a forma de apreensão do mundo de seu homme du monde (mudo do homem)com o estado de um convalescente ou de uma criança dotada de razão para quem as menores sensações são recebidas com grande surpresa e entusiasmo, ele aguça os sentidos de seu observador munindo-se de uma curiosidade sensorial que gera como que uma hiperestesia.

Baudelaire defende que o espaço do herói moderno não está vago, uma vez que este herói não é ausente, falso e nem padece de uma descrição vaga. É sim, um herói verdadeiramente moderno, na medida em que é construído da mesma matéria e com a mesma estrutura lógica da modernidade.

O aponta 4 elementos que delineiam o conceito de modernidade.

  • A valorização do presente corresponde ao caráter transitório e fugido, à parcela de bela contida na ideia do belo e sua conseqüência aproximação com a ideia do Zeitgeist.
  • O artiste peintre dês moeurs ou pintor de costumes como o herói da modernidade por oposição à condição de isolamento do artista na modernidade. Isolado, o herói contribui para o caráter elitista dos Movimentos Modernistas.
  • A modernidade enquanto natureza da relação entre o herói moderno e o seu contexto.
  • A presença da “humanidade” compreendida como imperfeição assegurando a acessibilidade da experiência estática.


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REFERÊNCIA

SOBRAL, Julieta. O caldeirão moderno. Disponível em <http://wwwusers.rdc.puc-rio.br/imago/site/narrativa/ensaios/julieta.pdf>

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